domingo, 7 de agosto de 2011

Polêmicas sobre o "Novo Mundo"

El Descubrimiento de América por Christopher Columbus (1959)
(A Descoberta da América por Cristóvão Colombo)
Salvador Dali
Tamanho: 410 × 284 cm
Óleo sobre tela

      A experiência do contato entre europeus e povos do "Novo Mundo" já rendeu incontáveis análises e interpretações. Um exemplo é o livro de Antonello Gerbi  intitulado "Novo Mundo: história de uma polêmica". Neste livro, este historiador apresenta uma análise das ideias de naturalistas do século XVIII que buscavam "provar cientificamente" a inferioridade da natureza e dos habitantes do "Novo Mundo". Mas é interessante perceber que o caminho seguido por tais pensadores de modo algum opunha ciência à religião. Ao contrário, é da aproximação entre estas duas matrizes de interpretação que nascem as teorias sobre a inferioridade do Novo Mundo. 
        Numa época em que essas duas formas de saber permaneciam mescladas, os argumentos e teses  poderiam, por exemplo, ser retirados ou fundamentados ora pelo livro do Gênesis, ora pela Teoria da Geração Espontânea. A própria expressão "Novo Mundo" é um exemplo dessa relação íntima entre religião e ciência. Uma das coisas que pensadores como David Hume E Buffon afirmavam era que o continente americano era muito mais novo em relação à Europa. E explicavam essa evidência com base em alguns argumentos, dentre eles, o de que a imaturidade do continente americano se devia ao fato de não ter secado completamente do Dilúvio (por isso sua umidade excessiva!). Em contrapartida, esse excesso de umidade explicaria não apenas a imaturidade do continente como também e, paradoxalmente, seu estado de putrefação. Afinal, a terra encharcada, assim como a carne podre dá vida - assim acreditavam -  às criaturas mais nocivas e abjetas como as serpentes e os insetos!  Daí concluíam: a natureza do continente americano é menos mãe e mais madrasta; não apenas a natureza, mas também os seres que ali habitavam são inferiores em relação aos do Velho Mundo. Comparando as espécies animais americanas com as de outros continentes, afirmavam que os "leões" no Novo Mundo não tinham juba! Na verdade, comparavam leões com jaguares e concluíam que os daqui não tinham juba, logo eram menos ferozes. E o mesmo raciocínio era feito em relação aos ameríndios, pois se "os leões não tinham juba",  também "os homens não tinham barba" e, portanto, eram menos viris.  
       O tema da inferioridade dos povos americanos jamais saiu de cena. Diferente disso, tomou outras formas, muitas vezes mais sutis ou implícitas. O discurso assimilacionista, muito difundido no Brasil na década de 1970, pode ser entendido como herança de tais concepções. Nesta época, o Estado brasileiro desenvolveu uma política favorável à assimilação das culturas indígenas à sociedade nacional e ainda afirmava que tais culturas tendiam ao desaparecimento. Hoje sabemos que não é isso que ocorre. Ao contrário, nas últimas décadas as populações indígenas têm crescido, assim como as organizações indígenas que trabalham em prol da preservação de sua cultura tradicional. É importante lembrar que tais transformações decorrem do processo de redemocratização do Brasil, sobretudo após a promulgação da Constituição de 1988.

Abaixo seguem os dados comparativos:



Referências Bibliográficas:
GERBI, Antonello. O Novo Mundo-História de uma polêmica: 1750-1900.